quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas outra metade é silencio…Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste.Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.Porque metade de mim é o que ouço, mas outra metade é o que calo.Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que mereço.Que essa tensão que me ocorre por dentro seja um dia recompensada.Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.Que o espelho reflicta em meu rosto o doce sorriso que eu lembro de ter dado na infância.Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.E que o teu silencio me fale cada vez mais.Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba,E que ninguém tente complicar, porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.Porque metade de mim é a plateia e a outra metade a canção.E que a minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor e a outra metade… Também.


(Oswaldo Montenegro)