quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Slow Fashion uma opção para a moda sustentável





Sabia que restos de tecidos jogados fora, em aterros, podem demorar 300 anos para decompor? Então por que não começar a reaproveitar o que já tem no armário? 



Por Cássia Nascimento 



Tanto se fala em reciclagem e moda sustentável, mas o que vem a cabeça do consumidor é: “onde encontrar essas opções de roupas?”. Realmente ainda está difícil, porque existem poucas fábricas de tecidos reciclados pelo país. Porém se um dos conceitos da sustentabilidade é reaproveitar, ou seja, não desperdiçar, usar e reinventar coisas novas a partir de coisas já usadas é possível que todos possam contribuir com o meio ambiente. Para isso, em vez de jogar roupas velhas fora e viver comprando novas pode-se aproveitar o que se tem no armário, criando novas caras. 

A alternativa para esse problema veio da Europa e chama-se Slow Fashion, movimento que prega a longevidade e qualidade das roupas, buscando conscientizar os consumidores de que menos pode ser mais. Para os adeptos deste conceito, a roupa não é vista como algo passageiro, com “prazo de validade”, mas sim como um objeto atemporal e duradouro. 

“As pessoas estão obcecadas pelo novo. Só sabem colocar o cartão de crédito na máquina para gastar dinheiro”, diz Kate Fletcher, consultora de moda sustentável. Segundo Kate, os preços das roupas nas lojas populares da Grã-Bretanha caíram 25% nos últimos dez anos. Nunca antes foi possível comprar tanto, tão barato.

Além de pregar um equilíbrio maior no consumo, o Slow Fashion defende marcas éticas e propõe algumas mudanças de hábito, como ir às compras em brechós, trocar peças com os amigos e alugar bolsas de luxo, ao invés de comprar. 

No Brasil, o estilista Jefferson Kulig aposta na moda sem exageros. Ele diz que o guarda-roupa deve ter mais peças clássicas duráveis e menos espaço para tendências passageiras. 

O conceito Slow Fashion é bem parecido com a customização, sendo ela muito usada pelos adeptos do movimento, que propõe dar cara nova às roupas fora de moda ou “velhas”. A revista Geração Sustentável sugere uma dica de como reaproveitar sua calça jeans velha transformando-a num lindo shortinho. Confira o passo a passo. 



Você vai precisar de: 



Calça jeans velha, 

Tesoura, 

Cola para tecido, 

Pincel, 

Paetês (do jeito que preferir), 

Caneta para marcar. 



Como fazer 



Vista a calça e marque um pontinho com a caneta o tamanho que deseja que fique seu short, tire-o e dobre de lado para cortar. Antes de cortar, conte seis dedos e só corte abaixo dessa indicação (porque ao invés de costurar a barra, esta será dobrada até a altura indicada). Após cortar e dobrar, você pode passar a barra dobrada para ficar mais ajeitada e facilitar o próximo passo. Agora é só sinalizar com a caneta o local que quer colocar os paetês, uma sugestão é usar um dos lados do short e um dos bolsos de traz. Então coloque um pouco de cola num recipiente e use o pincel para colar os paetês. Pronto agora você tem um novo short lindo para arrasar onde quiser. 



Obs.: Se preferir em vez de dobrar a barra do short ou costurar, você pode desfiar dando um estilo mais despojado.





Matéria elaborada para a revista Geração Sustentável (editoria de Moda) proposta para o PIC 2012 do 4° semestre de Jornalismo

Grandes grifes aderem à moda sustentável


Por que nomes do primeiro escalão estão trabalhando em prol desta iniciativa


Por Cássia Nascimento


A indústria têxtil está entre as quatro que mais consomem recursos naturais, como água e combustíveis fósseis, de acordo com o Environmental Protection Agency (órgão americano que monitora a emissão de poluentes no mundo). Somente o algodão é responsável por cerca de 30% da utilização de pesticidas na terra. Para se ter uma ideia dos danos causados ao meio ambiente, apenas na produção de uma camiseta de 250 gramas de algodão, na china por exemplo, são usados em media 160 gramas de agrotóxicos. Os quais contaminam os solos e rios, causando danos às vidas dos seres marinhos e às famílias que consomem seus alimentos.

Por isso pensar sustentavelmente tem sido a proposta social veiculada nesses últimos anos pela mídia. O termo sustentável requer uma série de fatores a serem analisados numa cadeia de produção. Ser sustentável é pensar em criar maneiras de aproveitamento/reutilização de produtos para minimizar os danos causados ao meio ambiente por meio da cadeia produtiva.

Assim, o conceito de moda sustentável (também chamada de ecológica) leva em conta todos os recursos usados na produção de um tecido/roupa, como: a matéria-prima, a quantidade de água, a mão de obra, o transporte do que foi produzido, enfim todo o processo. Para os defensores da moda sustentável, não adianta usar tecidos feitos a partir de um processo de reciclagem, mas gastar muito combustível no transporte desses produtos até o local de venda. Portanto, a moda sustentável propõe que toda a cadeia produtiva de uma roupa seja feita conscientemente.

Atualmente marcas conceituadas como a grife brasileira Osklen e a mundial Stella McCartney já fazem uso da moda ecológica. Porém são produções que nem sempre estão ao alcance de todos os bolsos. Para estimular o interesse popular por tal tipo de moda, a Hanesbrands, dona da marca Zorba no Brasil, em parceria com a rede varejista Wal-Mart e a Embrapa estão produzindo roupas sustentáveis a preços populares. São camisetas, calcinhas, cuecas e bodies para bebês confeccionados com algodão cru ou orgânico, além de outras fibras, como o bambu.

Para entender o processo de fabricação de um tecido reciclável, conversamos com José Israel do Nascimento, gerente comercial da Ecosimple, empresa produtora de tecidos 100% recicláveis que fornecem material para grifes famosas. Um exemplo disso, foi a divulgação da nova coleção sustentável de Alexandre Herchcovith no último São Paulo Fashion Week, em junho deste ano. As peças usadas no desfile foram produzidas com tecidos da Ecosimple.

A Ecosimple utiliza restos de tecidos como matéria-prima em sua produção. Para isso ela conta com a parceria de cooperativas de trabalho, que recebem os fardos dos restos de tecidos com cores misturadas e fazem a separação das tiras por cor e devolvem a Ecosimple. Na empresa têxtil, as tiras passam por um processo que “rasgam” os tecidos até se transformarem em fios, estes são misturados com a pluma e PET (feita a base de garrafas PET). Assim é elaborado o fio Ecosimple com a mistura das duas fibras que se transformam no tecido reciclável.

O conceito de reciclagem ainda não é algo valorizado em todas as regiões do país segundo José Israel, por isso a Ecosimple procura fazer palestras e workshops sobre sustentabilidade. Para ele, no momento, não há vantagens em produzir tecidos recicláveis e sim paixão pelo conceito, pois os investimentos financeiros no processo são altos. “Quando iniciamos com a fiação 100% reciclado, a eficiência de máquina e operações era baixa, com baixa produtividade (produto mais caro). Hoje temos a eficiência e produtividade alta e podemos trabalhar com preços competitivos”, explica José Israel. Ao questionar sobre as diferenças de preços entre um produto reciclável e um não reciclável, o gerente comercial da Ecosimple informa que se baseando pela mesma composição e gramatura há um equilíbrio de preços.



Curiosidades sobre a produção de tecidos


1- A produção de couro para roupas, bolsas e sapatos está entre as que mais poluem o meio ambiente. Isso porque, para amaciar o couro, são usadas toneladas e mais toneladas de sal, entre outros produtos. Esse sal é dissolvido em água, que vai parar no solo. Anos e anos de produção provocam o acúmulo de água salgada em regiões onde o sal não é parte do ecossistema.

2- Cerca de 8 mil tipos de produtos químicos são usados para transformar matéria-prima bruta em tecidos. Muitos desses produtos provocam danos irreversíveis na humanidade e no meio ambiente.

3- Mais de 11 milhões de toneladas de poliéster (isso mesmo, dá 11 bilhões de quilos) são fabricados por ano. O processo de produção deste tecido demanda um consumo de água muito pequeno, mas, por outro lado, exige uma grande quantidade de energia. As fibras do poliéster não são biodegradáveis, mas ele é reciclável.

4- O simples uso de uma camiseta básica pode despejar na atmosfera 4 kg de dióxido de carbono durante toda a útil da roupa. Isso acontece se ela for sempre lavada a uma temperatura de 60º C, for secada em secadora e passada a ferro. No Brasil, não temos o hábito de usar secadora, mas essa maquininha destruidora de roupas é hábito em vários países, inclusive os EUA.

5- Quase 100% dos tecidos existentes podem ser recicláveis, e a indústria que faz essa reciclagem é capaz de reaproveitar mais de 90% das roupas descartadas. Isso é feito sem gerar subprodutos nocivos ao meio ambiente.



Matéria elaborada para a revista Geração Sustentável proposta no PIC 2012 do 4° semestre de Jornalismo